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Sinopse

Divorciado que não se sente confortável ao cuidar ocasionalmente dos filhos, Ray presencia um evento que muda completamente a sua vida: a chegada de seres extraterrestres. Ele precisará sobreviver ao ataque alienígena.

Crítica

Um dos filmes mais aguardados de 2005 marcou também o reencontro de dois dos maiores nomes de Hollywood, o diretor Steven Spielberg e o astro Tom Cruise. Spielberg é dono de três Oscars (Filme e Direção por A Lista de Schindler, 1993, e Direção por O Resgate do Soldado Ryan, 1998), além de já ter comandado sucessos e público como Tubarão (1975), Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993). Cruise, por sua vez, teve três indicações ao Oscar e estampou seu sorriso em produções campeãs de bilheteria, como Top Gun: Ases Indomáveis (1986), O Último Samurai (2003), e a quadrilogia Missão Impossível (1996-2000-2006-2011). Juntos, os dois realizaram antes o subestimado Minority Report: A Nova Lei (2002), que apesar da alta expectativa obteve um resultado – tanto artístico quanto financeiro – aquém dos potenciais envolvidos. Desde então, ambos buscavam por uma oportunidade de se reunirem novamente, e este é um dos principais pontos de interesse de Guerra dos Mundos.

Escrito pelo autor inglês H.G.Wells no final do século XIX, o romance A Guerra dos Mundos é um marco da cultura pop e da comunicação em massa desde 1938, quando o cineasta Orson Welles narrou o texto durante uma transmissão radiofônica como se fosse um fato real, levando uma multidão ao pânico, que acreditou ouvir um relato verídico. Em 1953 esta história foi adaptada para o cinema pela última vez, tendo Gene Barry e Ann Robinson como protagonistas (os dois, curiosamente, aparecem também na nova versão, agora como os sogros da personagem de Cruise). Sempre encarada como uma analogia à condição político-social do planeta, a invasão alienígena ao nosso planeta presente em Guerra dos Mundos poderia ser entendida como uma referência ao expansionismo europeu aos demais continentes coloniais, à Segunda Guerra Mundial, à Guerra Fria ou ao terrorismo do Oriente Médio, dependendo da época em que for situado.

Porém, a despeito de todo o conteúdo psicológico que a obra preserva, não podemos esquecer que se trata de um filme com a marca Spielberg. Assim, mesmo não tendo em cena aliens simpáticos como os vistos em E.T. – O Extraterrestre (1982), o longa guarda poucas semelhanças com outros similares como Independence Day (1996), Sinais (2002) ou mesmo Marte Ataca! (1996). Não há conspirações globais, estratégias militares ou sequências excessivas de destruição em massa. A trama aqui é sobre uma família desestruturada – marca registrada do diretor – que vai conseguir se unir sob a influência de condições extraordinárias. Tom Cruise interpreta um pai separado que dá pouca atenção aos dois filhos. Quando os invasores aparecem, tudo o que podem fazer é fugir desesperadamente, na tentativa de permanecerem vivos. O filho adolescente (Justin Chatwin, de Roubando Vidas, 2004), é rebelde e contesta qualquer determinação paterna. A menina (Dakota Fanning, vista posteriormente na Saga Crepúsculo) procura no irmão o conforto da segurança, mas aos poucos irá descobrir uma nova pessoa naquele pai quase desconhecido, alterando de modo positivo o relacionamento entre eles.

Com participações importantes da citada Miranda Otto (O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, 2003) e de um exagerado Tim Robbins (Sobre Meninos e Lobos, 2003), Guerra dos Mundos tem aparência de megaprodução, mas no seu íntimo não passa de um tradicional drama familiar. Alguns podem questionar a ideologia presente, na visão norte-americana dos fatos ou a ideia de que somente em situações extremas podemos finalmente nos encontrar. Mas este filme está além disto, e é no contexto dramático das pessoas envolvidas, e não nos fatores externos, que se encontra o melhor da obra. A mão habilidosa de Spielberg está presente na tensão crescente, na fluidez da narrativa e na genialidade de algumas sequências, que são literalmente de tirar o fôlego. E o carisma de Cruise, se não o auxilia na construção de um homem comum, ao menos o favorece na identificação com o espectador, que confia no seu talento como promessa de satisfação garantida.

Com roteiro de David Koepp (Homem-Aranha, 2002), trilha sonora do habitual parceiro John Williams (que trabalha com Spielberg desde Louca Escapada, 1974) e uma fotografia estudada de Janusz Kaminski (igualmente oscarizado por A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan), Guerra dos Mundos é um óbvio progresso do diretor, principalmente se levarmos em conta que seu trabalho anterior havia sido o insípido O Terminal (2004). Um tanto pretensioso, às vezes por demais melodramático e com algumas decisões equivocadas, ainda assim se constitui numa obra de imenso respeito e de muitas qualidades. Eficaz em suas intenções, certamente não agradará a todos, mas não há como negar seu mérito em provocar o efeito esperado através de imagens poderosas e de um discurso eficiente. E, para aqueles que insistirem em considerar este filme como um passatempo ligeiro e descartável, o conselho é prestar maior atenção na narração de Morgan Freeman (retirado do texto original lido por Orson Welles) presente no início e no encerramento da obra: ali está não só a chave de toda e qualquer dúvida sobre o longa, mas também um importante alerta para a condição humana no nosso planeta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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